Escrito por: Cpers Sindicato

CPERS realiza o 3º Encontro Estadual da Diversidade em Porto Alegre

Fotos CPERS Sindicato

Nesta sexta-feira (27), o CPERS, por meio do seu Departamento de Diversidade, promoveu o 3º Encontro Estadual da Diversidade, reunindo educadoras(es), ativistas, autoridades políticas, juristas, artistas e representantes de movimentos sociais no Salão de Atos Thereza Noronha, na sede do Sindicato, em Porto Alegre.

Com o tema “Entendendo a Diversidade – Fortalecendo a luta pela garantia de direitos da comunidade LGBTQIAPN+”, o evento marcou mais um passo no compromisso histórico do Sindicato com a construção de uma educação pública democrática, inclusiva e acolhedora.

A abertura foi conduzida pela presidenta do CPERS, professora Rosane Zan, acompanhada pela coordenadora do Departamento de Diversidade, Andréa Nunes da Rosa, pela diretora Vera Maria Lessês e pelo diretor Leonardo Preto, ambas(os) integrantes do Departamento de Diversidade. O 1º vice-presidente, Alex Saratt, as(os) diretoras(es) Sandra Santos, Juçara Borges, Amauri Pereira da Rosa e Guilherme Bourscheid também participaram da atividade, que lotou o auditório em clima de esperança e mobilização.

Na ocasião, a presidente Rosane Zan ressaltou que a escola deve ser sempre espaço de afeto, proteção e transformação — jamais de exclusão ou violência.

“Nós, enquanto educadoras e educadores, trabalhadoras e trabalhadores em educação, precisamos ser seres humanos livres de qualquer preconceito que a sociedade ainda insiste em reproduzir. O que iniciamos aqui levaremos nas nossas regiões, nas nossas escolas, fortalecendo a consciência coletiva e estimulando ainda mais o nosso engajamento nessa luta. Precisamos estar firmes e unidas na defesa de uma escola acolhedora, inclusiva, que respeite a diversidade em todas as suas formas”, asseverou a presidente Rosane.

Andréa Nunes da Rosa, coordenadora do Departamento de Diversidade, também enfatizou a relevância do Encontro:

“Quero dizer da imensa alegria e da honra que é receber cada uma, cada um e cada une de vocês neste momento tão especial. Este é o nosso primeiro encontro de diversidade desta gestão, mas já é o terceiro realizado pelo Departamento, o que mostra a força e a continuidade dessa pauta dentro do nosso Sindicato”, explicou.

“É muito significativo estarmos reunidos hoje para discutir, refletir e avançar sobre as demandas da comunidade LGBTQIAPN+. Queremos levar este debate até as escolas, construindo coletivamente ambientes mais humanos, inclusivos e livres de preconceito. Essa luta precisa e vai continuar no centro da pauta do CPERS”, acrescentou Andréa.

Vera Maria Lessês, diretora do Departamento, trouxe um relato pessoal emocionante ao contar que é mãe de um homem trans de 27 anos:

“Só quem convive de perto sabe os desafios diários enfrentados por esse segmento. É um sofrimento real, muitas vezes silencioso, que precisa ser reconhecido e enfrentado com empatia, coragem e compromisso. Ver este auditório cheio de educadoras e educadores dispostos a desconstruir preconceitos me enche de esperança”, afirmou.

Leonardo Preto, diretor do Departamento, sintetizou o espírito do encontro ao afirmar que “esta é uma pauta essencial, que precisa estar cada vez mais viva no nosso dia a dia. Neste frio, é justamente o calor da diversidade que nos aquece a alma, que nos motiva e nos fortalece para seguir na luta. Viva o CPERS, viva a diversidade!”

Desafios da população LGBTQIAPN+ em tempos de retrocessos e violência política

Por ocasião do lançamento da cartilha do CPERS sobre diversidade e inclusão, lideranças políticas e sociais participaram da mesa “A atual conjuntura e os desafios para a população LGBTQIAPN+”. O encontro reuniu lideranças de destaque como a deputada federal, Daiana Santos (PCdoB), a vereadora de Porto Alegre, Natasha Ferreira (PT), o coordenador do Coletivo LGBTQIAPN+ da CUT/RS, Erlon Veronez Schüer, e o vereador de Porto Alegre, Giovani Culau (PCdoB). A mediação foi conduzida pelo diretor do Departamento de Diversidade do CPERS, Leonardo Preto.

Em meio a um cenário nacional de avanço da extrema-direita e retrocessos legislativos, as(os) participantes reforçaram a urgência de fortalecer políticas públicas inclusivas e enfrentar a violência sistemática que atinge a população LGBTQIAPN+. 

A vereadora de Porto Alegre, Natasha Ferreira (PT), primeira mulher trans a presidir uma comissão permanente na Câmara de Vereadores da capital, foi enfática: “Nossa presença incomoda. Incomoda porque nos recusamos a ser silenciadas. Porque somos travestis falando sobre cidade, trabalho, educação e direitos.”

Natasha criticou duramente a gestão municipal de Sebastião Melo (MDB), que se posiciona de forma contrária a políticas públicas inclusivas. “A escola deve ser um lugar de acolhimento, não de exclusão. Quando uma criança LGBTQIAPN+ é violentada ou expulsa da escola, toda a comunidade sofre.”

A parlamentar encerrou sua fala com um apelo: “Educação pública, inclusiva e de qualidade é projeto de futuro. O CPERS cumpre um papel essencial ao manter esse debate vivo.”

O coordenador do Coletivo LGBTQIAPN+ da CUT/RS, Erlon Veronez Schüer, trouxe à tona o incômodo que causa o silêncio de colegas de militância quando o assunto é a defesa da população LGBTQIAPN+. “Esse silêncio fala alto e nos preocupa. Não podemos mais nos esconder. Esses espaços também são nossos. Nós os construímos com nossa luta e com nossa existência.”

Ele destacou que visibilidade é resistência e reafirmou o papel das(os) educadoras(es) como agentes de acolhimento. “Se há estudantes sofrendo bullying ou violência, devemos ser faróis para eles. A nossa presença é política.”

Para a deputada federal Daiana Santos (PCdoB), a violência sofrida pela população LGBTQIAPN+, especialmente jovens e crianças, é uma consequência de uma estrutura que marginaliza e ignora. “A precarização das escolas é uma escolha política. A falta de investimento é negligência e essa negligência mata.”

Ela relacionou o debate LGBTQIAPN+ às tragédias sociais do estado, como as enchentes que atingem o Rio Grande do Sul, onde a população vulnerabilizada foi a mais afetada. “Quando falamos de pessoas desabrigadas e esquecidas, estamos falando de nós: negras e negros, mulheres, LGBTQIAPN+, mães solo e trabalhadoras e trabalhadores pobres.”

Daiana também destacou a importância da articulação legislativa: “Estamos avançando na criação do Estatuto da População LGBTQIAPN+, que prevê 28 artigos de garantia de direitos.”

O vereador Giovani Culau (PCdoB) traçou uma análise estrutural do momento político atual, denunciando o crescimento da extrema-direita em um sistema de profundas desigualdades. “O capitalismo que vivemos se sustenta em um modelo de família patriarcal, heteronormativo e monogâmico que nos sufoca. Essa violência é estrutural e a extrema-direita se alimenta dela.”

Com base em sua vivência pessoal, Culau reforçou a importância de políticas públicas que rompam o ciclo de exclusão. “Durante anos, vivi com medo de dizer quem eu era. Esse medo adoece, mata e expulsa nossas juventudes das escolas. Não há neutralidade possível diante disso.”

Ele também criticou as campanhas difamatórias da extrema-direita contra a escola pública: “Eles criam mentiras como a da ‘mamadeira de piroca’ ou a ‘doutrinação nas escolas’ porque sabem que uma escola crítica forma cidadãos conscientes e cidadãos conscientes não aceitam opressão.”

A cartilha lançada pela entidade se soma como ferramenta concreta nesse processo, apostando na formação crítica e na valorização da diversidade como pilares de um projeto de educação emancipadora. Porque, como afirmaram as(os) presentes, existir com dignidade e viver sem medo é um direito — e não uma concessão.

Educação e diversidade: o afeto como ferramenta de resistência nas escolas

Na segunda mesa do Encontro, intitulada “A Diversidade nas escolas: entre vivências, letramentos e a legislação”, o debate revelou que transformar o ambiente escolar em um espaço de escuta, pertencimento e inclusão é uma urgência e uma possibilidade concreta quando há afeto, compromisso e coragem.

Coordenada por Vera Maria Lessês, diretora do Departamento de Diversidade do CPERS, a mesa reuniu três vozes potentes: a professora e arte-educadora Helena Soares Meireles, a orientadora educacional e mãe ativista da Mães pela Diversidade, Maria Cristina Santos da Cunha, e o advogado e defensor dos direitos LGBTQIAPN+ Dr. Diego Cândido. Juntas(os), elas(es) narraram experiências pessoais, análises jurídicas e práticas pedagógicas que defendem a pluralidade como parte essencial do direito à educação.

Professora trans, Helena Soares Meireles, compartilhou um episódio marcante com seus alunos, que espontaneamente passaram a chamá-la de “Sora Helena”.

“É só puxar uma perninha no ‘o’ e vira um ‘a’, está resolvido”, disse um dos estudantes, com ternura.

O episódio simples carregava uma força simbólica imensa: o reconhecimento de identidade como prática cotidiana, construída na sala de aula, com escuta e respeito mútuo. Helena relatou que, naquele espaço escolar, foi “inventada e reinventada” — e hoje continua ali, transformando realidades com coragem e coração, já que, conforme Helena, a origem da palavra coragem é coração.

Advogado da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB-RS, coordenador jurídico da Igualdade da Associação de Travestis e Transexuais do RS e membro da ONG SOMOS – comunicação, saúde e sexualidade, Dr. Diego Cândido, trouxe à discussão o grave cenário jurídico enfrentado pela população LGBTQIAPN+ no Brasil. 

“Os direitos dessa população não são assegurados por leis plenas. Vivemos uma constante insegurança jurídica e isso mata.”

Diego destacou a importância de se combater o preconceito com ações concretas. Ele ressaltou que a exclusão e a falta de políticas públicas efetivas geram adoecimento mental, violência e suicídios.

Além disso, fez um alerta sobre o cenário internacional: muitos fundos de apoio à diversidade foram cortados, e os movimentos sociais resistem com cada vez menos estrutura. Para ele, é preciso um esforço coletivo, vigilância constante e políticas de letramento para impedir retrocessos.

“A diversidade é linda e nos humaniza. Seria insuportável viver em um mundo onde todos fossem iguais.”

Maria Cristina Santos da Cunha, orientadora escolar e ativista da Mães pela Diversidade, falou sobre a jornada de acolhimento da filha lésbica e de reconstrução pessoal enquanto mãe.

“Tive que reaprender a maternar e foi minha filha quem mais me ensinou.”

Maria Cristina revelou que a própria escola, infelizmente, não foi um ambiente seguro para sua filha. A experiência a impulsionou a criar espaços de conversa sobre bullying, LGBTQIAPN+fobia, racismo e capacitismo nas escolas. Seu trabalho é marcado pelo afeto e pela convicção de que acolher é um ato político e transformador.

“Acolher é acender o sol do outro intencionalmente e minha missão é garantir que nenhum aluno precise sair da escola por se sentir rejeitado.”

O papel das famílias e da escola na luta por dignidade para crianças e jovens LGBTQIAPN+

Com o tema “Mês do Orgulho LGBTQIAPN+: acolher, respeitar, celebrar a diversidade e resistir aos retrocessos”, a terceira mesa da atividade trouxe ao centro do debate o acolhimento de crianças e adolescentes LGBTQIAPN+ como condição para uma escola verdadeiramente inclusiva e transformadora.

Conduzida por Andréa da Rosa, coordenadora do Departamento de Diversidade do Sindicato, a mesa reuniu vozes que uniram vivência, pesquisa e afeto: Renata dos Anjos, da Mães pela Diversidade, e o psicólogo Dr. Vinicius Pasqualin.

Para o Dr. Vinicius Pasqualin, a falta de afirmação da identidade de gênero e o silêncio diante da diversidade geram sofrimento psíquico e adoecimento mental. Ele apontou que o que mais vê nos consultórios hoje são jovens que não sabem nomear suas emoções, reprimidos por uma cultura que as(os) ensina a se esconder.

“Fui dar uma palestra sobre diversidade para alunos de enfermagem e percebi como é difícil, até mesmo na área da saúde, compreender como relacionar sujeitos LGBTQIAPN+ a partir da perspectiva do cuidado”, asseverou.

Ele defendeu que a transformação social começa na micropolítica das salas de aula: “Precisamos disputar sentidos e significados todos os dias. Isso acontece no cotidiano escolar, no acolhimento, na escuta e no respeito às identidades.”

A explanação de Renata dos Anjos, integrante do Movimento Mães pela Diversidade, explicou que crianças LGBTQIAPN+ existem e reconhecer isso é o primeiro passo para protegê-las. “Estamos falando de identidade de gênero, de expressão de gênero, de orientação sexual e de vidas que precisam ser respeitadas desde cedo”, afirmou.

De acordo com Renata, a sociedade ainda reproduz violência simbólica e física contra essas crianças, muitas vezes por ignorância. “A sexualidade surge na puberdade, mas a identidade de gênero e a expressão já se manifestam na infância. Precisamos entender isso com responsabilidade. Crianças precisam ser ouvidas.”

Renata compartilhou sua própria experiência como mãe: “Quando minha filha Flora me contou, aos 14 anos, que era lésbica, eu só quis saber se ela era feliz. Ela era. E eu segui sendo sua mãe, com ainda mais orgulho. Minha filha fez a minha vida mais colorida, mais leve e mais humana.”

Ela também ressaltou a importância da escola nesse processo de acolhimento. “Temos a obrigação de construir escolas melhores e mais inclusivas. Minha filha teve o privilégio de nunca sofrer violência na escola, mas sei que essa não é a realidade da maioria.”

Durante a mesa, Renata convidou outras mães presentes a escreverem no quadro palavras que simbolizassem sua vivência. O gesto, simbólico e coletivo, reforçou a potência do afeto como resistência.

Encerrando o encontro, a artista Amy Babydoll apresentou a performance “Vermelho Esperança”, que uniu arte e militância em um gesto simbólico de beleza e dor enfretados pela comunidade LGBTQIAPN+.

O 3º Encontro Estadual da Diversidade do CPERS reafirmou que a defesa da vida, da dignidade e dos direitos da população LGBTQIAPN+ passa, necessariamente, pela escola, pela escuta e pelo afeto. 

A diversidade nos humaniza. A educação nos une. A luta nos fortalece. Seguiremos resistindo e construindo uma sociedade onde todos os corpos, vozes e amores tenham lugar e respeito. Viva a diversidade!