Terceirizados sofrem negligência em acidentes de trabalho na CEEE Equatorial
Após investigação do MTE, presidente do Senergisul denúncia: “Trabalhadores terceirizados da CEEE Equatorial são dublês de eletricista, atuam sob fraude, assédio e risco de morte”.
Publicado: 27 Fevereiro, 2025 - 16h22 | Última modificação: 27 Fevereiro, 2025 - 16h39
Escrito por: Matheus Piccini

Uma série de investigações conduzidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) revelou um cenário alarmante de irregularidades envolvendo a CEEE Equatorial e sua principal terceirizada, a Setup, responsável pela execução de serviços e atendimento aos clientes no Rio Grande do Sul. Entre os casos analisados estão dois acidentes graves ocorridos em 2024 e três acidentes fatais registrados em 2023 — todos diretamente ligados à falta de qualificação da mão de obra e à existência de certificados falsos de treinamento.
O relatório da Superintendência Regional do Trabalho no RS (SRTE/RS) apontou que a Setup precisa rever urgentemente sua política de treinamentos, adotando métodos mais eficazes para garantir a segurança dos trabalhadores. O documento também revelou que a CEEE Equatorial já tinha conhecimento das fraudes desde uma auditoria interna, realizada em maio de 2023, que apontava manipulação de certificações e treinamentos inadequados.
Os casos investigados incluem situações de extrema gravidade, como o acidente de fevereiro de 2024, em Porto Alegre, quando um trabalhador sofreu uma descarga elétrica seguida de queda, resultando em graves sequelas neurológicas. Em outro caso, em setembro do mesmo ano, um trabalhador de Camaquã sofreu descarga elétrica e foi hospitalizado com sintomas de fibrilação cardíaca. Em ambos os episódios, nem a CEEE Equatorial nem a Setup emitiram a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), como determina a legislação previdenciária.
Diante das conclusões do MTE, o presidente do Sindicato dos Eletricitários do RS (Senergisul), Antonio Jailson da Silva Silveira, reforçou o que o sindicato denuncia há mais de dois anos: a total precarização do trabalho e a negligência da Equatorial com a segurança dos seus trabalhadores terceirizados. Em entrevista à CUT-RS, Silveira foi enfático ao responsabilizar a empresa e sua terceirizada pelas mortes e acidentes ocorridos.
“Esses acidentes são resultado direto da falta de preparo técnico dos trabalhadores e da carga exaustiva de trabalho, que passa de 60 horas semanais em uma atividade de altíssimo risco. Isso é fruto da política de precarização imposta pela Equatorial e praticada pela Setup. Nossos eletricistas estão sendo transformados em dublês de eletricista, trabalhando na base da fé, porque falta qualificação e sobra assédio moral”, denuncia Silveira.
Segundo o presidente do Senergisul, a situação de fraudes nos treinamentos é tão absurda que há casos de certificados emitidos meses antes da contratação oficial dos trabalhadores. “Eles contratam em agosto e o certificado de formação é datado de abril. É uma fraude grotesca, uma completa irresponsabilidade, e isso com o conhecimento da Equatorial. A própria auditoria interna deles já apontava essas irregularidades”, afirma.
Além das fraudes documentais, Silveira destaca que os trabalhadores da Setup vivem sob constante pressão psicológica e são submetidos a metas abusivas, premiando produtividade mesmo quando há reprovações em inspeções de segurança. “É uma política deliberada de cortar custos a qualquer preço, mesmo que isso custe vidas. Além de ter ciência disso, a Equatorial permite essa prática criminosa ao manter a Setup como sua principal prestadora de serviços”, critica o sindicalista.
A precarização da mão de obra também reflete diretamente no serviço prestado à população. De acordo com o presidente do Senergisul, a falta de qualificação dos trabalhadores e as condições precárias de trabalho são um dos fatores que explicam os longos períodos em que comunidades inteiras ficam sem luz, especialmente em situações de emergência climática. “A Equatorial culpa o clima, mas a verdade é que a empresa tem uma equipe despreparada e sobrecarregada. Quem paga essa conta é a população”, ressalta Silveira.
Diante da gravidade das denúncias confirmadas pelo MTE, o sindicato espera que a Equatorial finalmente tome providências concretas para corrigir essas irregularidades. “Há dois anos estamos denunciando essa situação em órgãos públicos, na mídia, em audiências e na CPI da Câmara de Vereadores. Até agora, nada mudou. Esperamos que, com essa nova comprovação dos auditores do trabalho, a Equatorial tome vergonha na cara e rompa com esse ciclo de precarização, fraude e desrespeito à vida dos trabalhadores”, finaliza o presidente do Senergisul.