Escrito por: Fiocruz

Trabalhador desenvolve leucemia após exposição ao benzeno

Mesmo com ocorrido empresa recusa emissão de CAT

Um trabalhador da indústria petroquímica do Rio Grande do Sul desenvolveu Leucemia Mieloide Aguda (LMA) após meses de exposição ao benzeno — substância reconhecidamente cancerígena — e enfrentou a recusa da empresa em emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), mesmo diante de um quadro clínico grave. O caso foi apresentado no Senado Federal por representantes do Sindipolo-CNQ-CUT, durante sessão que discutiu riscos químicos e saúde do trabalhador.

O jovem ingressou na empresa em março de 2023, inicialmente como estagiário, sendo efetivado meses depois na área de Aromáticos, setor responsável pela produção de benzeno, butadieno e outros agentes tóxicos. Seu exame admissional não apresentou anomalias, o que o considerou apto para a função.

No entanto, em julho de 2024, o hemograma periódico já mostrava alterações significativas em glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas. Segundo a Portaria nº 776 do Ministério do Trabalho, a empresa deveria ter realizado três hemogramas adicionais em até 45 dias — o que não ocorreu.

Sem acompanhamento adequado, o quadro evoluiu. Em janeiro de 2025, o trabalhador desmaiou pela primeira vez. No mês seguinte, passou mal novamente dentro da planta industrial. Mesmo assim, ao buscar o ambulatório, ouviu que “estava tudo normal”, segundo relato apresentado no Senado.

Em 6 de março, inconformado com a piora da própria condição física, ele buscou um cardiologista particular. Os exames demonstraram alterações graves, levando o médico a indicar internação imediata por anemia profunda.

O trabalhador continuou em atividade até 10 de março e foi internado dois dias depois,em um hospital de Porto Alegre. Dias depois recebeu o diagnóstico definitivo, Leucemia Mieloide Aguda, doença associada à exposição ocupacional ao benzeno. Ele permaneceu hospitalizado por quase cinco meses, em tratamento intensivo com quimioterapia.

Empresa nega vínculo e se recusa a emitir CAT

Segundo o Sindipolo, a empresa — identificada como Braskem — negou emitir a CAT, contestando a relação entre o adoecimento e a atividade laboral. A recusa persistiu mesmo após solicitações formais da CIPA e do Grupo de Trabalho do Benzeno (GTB).

Diante da omissão, o sindicato apresentou denúncia à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do RS (SRTE/RS). Auditor fiscal médico da SRTE determinou que a empresa emitisse a CAT até o fim de agosto, mas a ordem não foi cumprida.

Com base em exames, laudos e documentos, o caso foi encaminhado ao projeto Caminhos do Trabalho, grupo multidisciplinar ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Após análise técnica, médicas do projeto emitiram a CAT, reconhecendo o nexo causal. O documento segue agora para avaliação do INSS, que analisará o benefício por doença ocupacional.

“Nenhum trabalhador deveria adoecer ou morrer por causa do trabalho”

Ao apresentar o caso, os representantes do Sindipolo-CNQ-CUT destacou que a situação não é isolada e representa um risco constante enfrentado pelos trabalhadores do setor petroquímico. Eles pediram que o tema seja levado à Comissão de Direitos Humanos e à Comissão de Assuntos Sociais do Senado.

“O benzeno é comprovadamente cancerígeno. A vida e a saúde dos trabalhadores não podem ser tratadas como custo de produção”, afirmaram os representantes.

O caso reacende o debate sobre as falhas na vigilância à saúde de trabalhadores expostos a agentes químicos altamente tóxicos, a omissão empresarial diante de protocolos obrigatórios, a necessidade de fortalecimento da fiscalização trabalhista e a subnotificação de doenças ocupacionais no Brasil.

Para especialistas, a LMA associada ao benzeno é uma das doenças ocupacionais mais graves e de maior impacto na vida laboral e social das vítimas, exigindo resposta institucional urgente.