Um ano depois da enchente no RS, CUT-RS relembra mobilização e solidariedade
Após a enchente de maio de 2024, a CUT-RS, junto com seus sindicatos filiados, relembra as ações de solidariedade e reconstrução que marcaram a resposta sindical à maior tragédia climática da história do RS
Publicado: 05 Maio, 2025 - 13h13 | Última modificação: 05 Maio, 2025 - 15h29
Escrito por: CUT-RS

Maio de 2025 marca um ano da maior tragédia ambiental da história do Rio Grande do Sul. As chuvas que começaram no final de abril de 2024 e se intensificaram em maio deixaram rastros de destruição, dor e perdas humanas e materiais. Mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas em 478 municípios. Centenas de vidas foram perdidas, milhares de casas destruídas, e a infraestrutura urbana de cidades como Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo ficou em colapso.
Mas entre o luto e a tragédia, brotou também a solidariedade. Desde os primeiros dias, a CUT-RS e seus sindicatos filiados se mobilizaram para enfrentar a crise com ações concretas de acolhimento, doações, defesa de direitos e reconstrução coletiva.
Logo nos primeiros dias da enchente, a CUT-RS e sindicatos como o dos Metalúrgicos de Porto Alegre, Canoas e Nova Santa Rita, São Leopoldo e Aeroviários abriram suas sedes para abrigar famílias desalojadas. Em Porto Alegre, centenas de pessoas foram acolhidas no Sindicato dos Metalúrgicos com apoio da CUT-RS. Em Canoas o STIMMMEC chegou a abrigar mais de 600 trabalhadores e trabalhadoras atingidas.
O Sindicato dos Aeroviários de Porto Alegre foi uma das primeiras entidades a abrir suas portas para acolher moradores das comunidades atingidas pelas enchentes, oferecendo abrigo, alimentação e apoio emergencial. No entanto, poucos dias depois, a própria sede do sindicato foi invadida pelas águas, obrigando a evacuação do local. As famílias que estavam abrigadas ali foram então transferidas para a sede da CUT-RS, que passou a acolhê-las.
Em São Leopoldo, o ginásio Bigornão virou o principal abrigo da cidade, acolhendo centenas de pessoas com o apoio de sindicatos cutistas. Esses espaços não apenas serviram como refúgios físicos, mas como pontos de solidariedade ativa: alimentação, roupas, produtos de higiene e apoio emocional foram ofertados por militantes e dirigentes sindicais.
Campanha Solidária da CUT-RS
Diante da emergência humanitária, a CUT-RS lançou uma grande campanha de solidariedade. A iniciativa arrecadou R$ 406 mil e doações de sindicatos, de todo o Brasil e do mundo. Os recursos foram destinados à compra de cestas básicas, kits de limpeza e colchões, além de apoio direto a sindicatos e trabalhadores atingidos.
Os repasses foram organizados com transparência e critério, priorizando entidades que estavam atuando na linha de frente e regiões mais afetadas. Dirigentes da CUT-RS realizaram entregas presenciais dos recursos em cidades como Canoas, Esteio, São Leopoldo, Guaíba, Sapucaia do Sul, Pelotas e Lajeado.
Além da CUT-RS, diversos sindicatos filiados protagonizaram iniciativas importantes, como o Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita que abrigou atingidos, distribuiu cestas básicas e acompanhou de perto os trabalhadores das fábricas alagadas.
A FETRAF-RS (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar) doou 6 toneladas de alimentos agroecológicos para a Central de Abastecimento das Cozinhas Solidárias (CECOSOL), garantindo alimentação para milhares de pessoas. Sindicatos da educação, do serviço público e de categorias da área da saúde também organizaram coletas e distribuição de donativos.
A União das Associações de Moradores de Porto Alegre/RS (UAMPA) também somou esforços com a CUT-RS no amparo dos afetados pela enchente desde os primeiros momentos. A entidade esteve mobilizada informando sobre a chuva e as cheias que estavam afetando a população, além disso também atuou na remoção das pessoas nos locais de risco da enchente. A UAMPA contratou ônibus e demais meios para ajudar a população nesse deslocamento, também organizou o fluxo de doações de roupas, comida, água e dentro da organização dos abrigos. Durante esse período, a entidade participou da construção da CECOSOL.
CECOSOL
A Central de Abastecimento das Cozinhas Solidárias (CECOSOL) foi fundada em agosto de 2024, em uma assembleia realizada na sede do Sindicato dos Aeroviários de Porto Alegre. A iniciativa surgiu como uma resposta à crise humanitária provocada pelas enchentes, com o objetivo de organizar e fornecer insumos para as cozinhas solidárias que atuavam nas regiões mais afetadas. A CECOSOL passou a atender mais de 200 cozinhas em cidades como Porto Alegre, Novo Hamburgo, Arroio dos Ratos, Canoas, Viamão, Alvorada e São Leopoldo, chegando a produzir de cerca de 25 mil marmitas diárias. A sede dos Aeroviários, ao abrigar a central, tornou-se um símbolo da solidariedade entre os trabalhadores e os movimentos sociais, fortalecendo a rede de apoio às populações atingidas.
Conquista de políticas públicas
A CUT-RS não se limitou às ações emergenciais. Desde os primeiros momentos da tragédia, a entidade também atuou politicamente para garantir que os trabalhadores e trabalhadoras atingidos tivessem seus direitos respeitados. Junto com outras centrais sindicais, cobrou do governo federal medidas emergenciais e estruturais.
A mobilização resultou em vitórias importantes. O governo federal atendeu a reivindicações das centrais e anunciou ações como: atualização das normas para apoio financeiro a trabalhadores atingidos; liberação de recursos emergenciais; agilidade na liberação do FGTS e no acesso a benefícios sociais; inclusão de famílias no programa Minha Casa, Minha Vida, com prioridade para a reconstrução de moradias populares.
A CUT-RS também publicou uma carta aberta, defendendo que a reconstrução do estado ocorresse com base na proteção à vida, garantia de direitos e empregos dignos — e denunciando o risco de políticas neoliberais que utilizassem a crise como justificativa para precarizar ainda mais o trabalho.
Vozes do trabalho invisível
A CUT-RS também deu visibilidade às histórias de trabalhadores que não apareciam nos grandes noticiários. Reportagens especiais contaram o drama de motoristas de aplicativo que perderam seus carros e sua renda com os alagamentos. Muitos, sem qualquer tipo de vínculo formal ou proteção social, ficaram à margem das medidas emergenciais.
“Essa tragédia escancarou a precarização do trabalho e a ausência de direitos para milhões de pessoas”, destacou Amarildo Cenci, presidente da CUT-RS. “É preciso repensar o modelo de desenvolvimento e garantir políticas públicas que coloquem a vida acima do lucro.”
Um ano depois: reconstrução, memória e justiça social
Um ano após as enchentes, os efeitos ainda são sentidos por milhares de gaúchos. Muitas famílias seguem sem moradia definitiva, e a reconstrução das cidades avança lentamente. Para a CUT-RS, é fundamental que esse processo ocorra com participação popular, controle social e respeito aos direitos.
Além disso, a central tem defendido a adoção de políticas de prevenção e adaptação às mudanças climáticas, cobrando investimento público em infraestrutura, saneamento e moradia segura — especialmente para as populações mais pobres e vulneráveis.
A enchente de 2024 foi um marco trágico, mas também um ponto de inflexão. “O que vimos foi a força da solidariedade de classe, da organização coletiva e do sindicalismo combativo que não se omite diante do sofrimento do povo. A luta continua pela reconstrução do Rio Grande com justiça social, trabalho digno e democracia”, conclui Amarildo.