Escrito por: CUT-RS
Após a enchente de maio de 2024, a CUT-RS, junto com seus sindicatos filiados, relembra as ações de solidariedade e reconstrução que marcaram a resposta sindical à maior tragédia climática da história do RS
Maio de 2025 marca um ano da maior tragédia ambiental da história do Rio Grande do Sul. As chuvas que começaram no final de abril de 2024 e se intensificaram em maio deixaram rastros de destruição, dor e perdas humanas e materiais. Mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas em 478 municípios. Centenas de vidas foram perdidas, milhares de casas destruídas, e a infraestrutura urbana de cidades como Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo ficou em colapso.
Mas entre o luto e a tragédia, brotou também a solidariedade. Desde os primeiros dias, a CUT-RS e seus sindicatos filiados se mobilizaram para enfrentar a crise com ações concretas de acolhimento, doações, defesa de direitos e reconstrução coletiva.
Logo nos primeiros dias da enchente, a CUT-RS e sindicatos como o dos Metalúrgicos de Porto Alegre, Canoas e Nova Santa Rita, São Leopoldo e Aeroviários abriram suas sedes para abrigar famílias desalojadas. Em Porto Alegre, centenas de pessoas foram acolhidas no Sindicato dos Metalúrgicos com apoio da CUT-RS. Em Canoas o STIMMMEC chegou a abrigar mais de 600 trabalhadores e trabalhadoras atingidas.
O Sindicato dos Aeroviários de Porto Alegre foi uma das primeiras entidades a abrir suas portas para acolher moradores das comunidades atingidas pelas enchentes, oferecendo abrigo, alimentação e apoio emergencial. No entanto, poucos dias depois, a própria sede do sindicato foi invadida pelas águas, obrigando a evacuação do local. As famílias que estavam abrigadas ali foram então transferidas para a sede da CUT-RS, que passou a acolhê-las.
Em São Leopoldo, o ginásio Bigornão virou o principal abrigo da cidade, acolhendo centenas de pessoas com o apoio de sindicatos cutistas. Esses espaços não apenas serviram como refúgios físicos, mas como pontos de solidariedade ativa: alimentação, roupas, produtos de higiene e apoio emocional foram ofertados por militantes e dirigentes sindicais.
Diante da emergência humanitária, a CUT-RS lançou uma grande campanha de solidariedade. A iniciativa arrecadou R$ 406 mil e doações de sindicatos, de todo o Brasil e do mundo. Os recursos foram destinados à compra de cestas básicas, kits de limpeza e colchões, além de apoio direto a sindicatos e trabalhadores atingidos.
Os repasses foram organizados com transparência e critério, priorizando entidades que estavam atuando na linha de frente e regiões mais afetadas. Dirigentes da CUT-RS realizaram entregas presenciais dos recursos em cidades como Canoas, Esteio, São Leopoldo, Guaíba, Sapucaia do Sul, Pelotas e Lajeado.
Além da CUT-RS, diversos sindicatos filiados protagonizaram iniciativas importantes, como o Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita que abrigou atingidos, distribuiu cestas básicas e acompanhou de perto os trabalhadores das fábricas alagadas.
A FETRAF-RS (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar) doou 6 toneladas de alimentos agroecológicos para a Central de Abastecimento das Cozinhas Solidárias (CECOSOL), garantindo alimentação para milhares de pessoas. Sindicatos da educação, do serviço público e de categorias da área da saúde também organizaram coletas e distribuição de donativos.
A União das Associações de Moradores de Porto Alegre/RS (UAMPA) também somou esforços com a CUT-RS no amparo dos afetados pela enchente desde os primeiros momentos. A entidade esteve mobilizada informando sobre a chuva e as cheias que estavam afetando a população, além disso também atuou na remoção das pessoas nos locais de risco da enchente. A UAMPA contratou ônibus e demais meios para ajudar a população nesse deslocamento, também organizou o fluxo de doações de roupas, comida, água e dentro da organização dos abrigos. Durante esse período, a entidade participou da construção da CECOSOL.
CECOSOL
A Central de Abastecimento das Cozinhas Solidárias (CECOSOL) foi fundada em agosto de 2024, em uma assembleia realizada na sede do Sindicato dos Aeroviários de Porto Alegre. A iniciativa surgiu como uma resposta à crise humanitária provocada pelas enchentes, com o objetivo de organizar e fornecer insumos para as cozinhas solidárias que atuavam nas regiões mais afetadas. A CECOSOL passou a atender mais de 200 cozinhas em cidades como Porto Alegre, Novo Hamburgo, Arroio dos Ratos, Canoas, Viamão, Alvorada e São Leopoldo, chegando a produzir de cerca de 25 mil marmitas diárias. A sede dos Aeroviários, ao abrigar a central, tornou-se um símbolo da solidariedade entre os trabalhadores e os movimentos sociais, fortalecendo a rede de apoio às populações atingidas.
Conquista de políticas públicas
A CUT-RS não se limitou às ações emergenciais. Desde os primeiros momentos da tragédia, a entidade também atuou politicamente para garantir que os trabalhadores e trabalhadoras atingidos tivessem seus direitos respeitados. Junto com outras centrais sindicais, cobrou do governo federal medidas emergenciais e estruturais.
A mobilização resultou em vitórias importantes. O governo federal atendeu a reivindicações das centrais e anunciou ações como: atualização das normas para apoio financeiro a trabalhadores atingidos; liberação de recursos emergenciais; agilidade na liberação do FGTS e no acesso a benefícios sociais; inclusão de famílias no programa Minha Casa, Minha Vida, com prioridade para a reconstrução de moradias populares.
A CUT-RS também publicou uma carta aberta, defendendo que a reconstrução do estado ocorresse com base na proteção à vida, garantia de direitos e empregos dignos — e denunciando o risco de políticas neoliberais que utilizassem a crise como justificativa para precarizar ainda mais o trabalho.
A CUT-RS também deu visibilidade às histórias de trabalhadores que não apareciam nos grandes noticiários. Reportagens especiais contaram o drama de motoristas de aplicativo que perderam seus carros e sua renda com os alagamentos. Muitos, sem qualquer tipo de vínculo formal ou proteção social, ficaram à margem das medidas emergenciais.
“Essa tragédia escancarou a precarização do trabalho e a ausência de direitos para milhões de pessoas”, destacou Amarildo Cenci, presidente da CUT-RS. “É preciso repensar o modelo de desenvolvimento e garantir políticas públicas que coloquem a vida acima do lucro.”
Um ano após as enchentes, os efeitos ainda são sentidos por milhares de gaúchos. Muitas famílias seguem sem moradia definitiva, e a reconstrução das cidades avança lentamente. Para a CUT-RS, é fundamental que esse processo ocorra com participação popular, controle social e respeito aos direitos.
Além disso, a central tem defendido a adoção de políticas de prevenção e adaptação às mudanças climáticas, cobrando investimento público em infraestrutura, saneamento e moradia segura — especialmente para as populações mais pobres e vulneráveis.
A enchente de 2024 foi um marco trágico, mas também um ponto de inflexão. “O que vimos foi a força da solidariedade de classe, da organização coletiva e do sindicalismo combativo que não se omite diante do sofrimento do povo. A luta continua pela reconstrução do Rio Grande com justiça social, trabalho digno e democracia”, conclui Amarildo.